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Dói

Olá tudo bem por aí?


Hoje temos uma convidada muito especial que nos enviou um texto bem marcante que merece muito ser refletido, ela é a Dra. Aline Andruskevicius, que vem trabalhando na linha de frente do combate ao Corona Vírus, no final coloco uma descrição e a forma de vocês entrarem em contato com ela, mas antes apreciem a bela escrita:


Dói...

Como dói ser aquele que dá a noticia de que você está infectado e não sei qual será o prognostico, que eu já vi muitos morrerem, mas outros tantos se salvarem. Como dói cada vez que chorei porque olhei para um paciente e vi que ele não tinha prognostico nenhum. Não! Não sou Deus, mas os poucos meses de experiência, infelizmente adquiri a sensibilidade de sentir e ver os olhos de uma despedida.

Como dói olhar e dizer “tudo vai ficar bem”, mesmo sabendo que este bem é em outra dimensão. Como dói olhar para alguém e saber que a vida esta terminando. Como dói olhar para um familiar e dizer, preciso interná-lo, então fica com ele agora, porque esta proibida visitas e saber, que provavelmente este alguém será a ultima vez que verá seu parente tão querido.

Como dói descobrir que somos insignificantes, que nada neste mundo faz sentido se não existir amor e um olhar com todo cuidado para o outro, como olhamos para nós mesmos.

Como dói perceber nestes dias de isolamento quantas pessoas são desprezíveis, quantas vidas foram embora que poderiam ser evitadas. Quantas pessoas que não se preocupam com o outro e só olham para si mesmo.

Quando tudo começou não pensei duas vezes em me arriscar, entrar na bolha do vírus para ajudar, porque sabia que estaria ajudando muitas outras vidas. Mas como dói me dedicar anos da minha vida para cuidar, curar, salvar e confortar e só descobrir agora o tão decepcionante é olhar em volta e ver tantos que não estão fazendo por mim, pelos meus, pelos seus e pelos nossos, quantos churrascos, quantas festas, quantos abraços, beijos e descaço presenciei.

Como dói ver quantas lives que eram para acalmar o coração e na verdade foram destruidores de lares, disseminação de vírus e vidas que tentei salvar, mas não consegui.

Como dói, olhar para seu paciente, fazer um carinho em seus cabelos já brancos pela idade, dizer que tudo vai ficar bem, que vou intubá-la para o pulmão descansar, mas mal terminamos o protocolo da intubação e seu paciente não resistir, e o ultimo olhar que ela teve foi o seu, de confiança, conforto e de que tudo ficaria bem.... como dói...

Como dói, você perder um paciente, ver tantos irem e saber que muitos ainda irão, como dói...

Dra. Aline Andruskevicius,


Médica pela Universidade Metropolitana de Santos - UNIMES. Voluntária da Cruz Vermelha Brasileira. Membra da Associação Paulista de Medicina - APM. Organizadora do Barco Solidário - Missão Amazônia (2017, 2018 e 2019). Membra da Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores de São Paulo - SOBRAMES -SP. Advogada com graduação em Direito pela Universidade Paulista (2007) e pós-graduação em Processo Penal e Direito Penal pela Faculdade Damásio de Jesus (2008). Ex-presidente da Liga de Acupuntura da UNIMES no exercício de 2016, ex-presidente da Liga de Oncologia - UNIMES no exercício de 2017 e ex-Diretora Científica da Liga de Pediatria - UNIMES no exercício de 2017. Monitora científica de infectologia - UNIMES sob supervisão do Dr. Roberto Focaccia (2017 e 2018)

Vocês podem seguir seu perfil no Instagram: https://www.instagram.com/dra.alineandrus/





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