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A única coisa que faço são parafusos.

João era funcionário da Fluidez Mental linhas aéreas fazia mais de vinte anos, funcionário exemplar nunca faltou ao serviço de forma desnecessária.


Era sem dúvidas um exemplo, não somente para seu setor, porém para toda empresa, sua função? Designer, fabricante e conferente de parafusos para aeronaves.


João de dentro da fábrica da empresa sempre observava e ficava maravilhado com os pilotos quando eles visitavam a linha de produção, os engenheiros exerciam nele a mesma admiração.


João não tem estudo universitário, aprendeu seu ofício com o pai, que por sua vez aprendera com o avô a arte de fabricar parafusos perfeitos.


Não era mal remunerado e provinha boa parte do sustento de sua família, esposa e dois filhos, ele era inclusive orgulho do primogênito que na escola dizia querer ser fabricante de parafusos também quando mais velho fosse.


João, no entanto, estava descontente com seu ofício, sentia-se pouco importante naquela função, se enxergava como uma figura pequena naquele universo de pilotos, engenheiros, advogados, contadores e diretores da empresa, chegou até mesmo a considera-se “burro” e incapaz ao se comparar com tais colegas.


O trabalho que tanto representava em sua vida passou a ser um fardo, saia de casa para a fábrica com um olhar vazio, sem entusiasmo algum, e uma vez no local trabalhava de forma robótica, mesmo assim era tão bom no ofício que jamais cometia erro algum.


João foi entristecendo com a ideia de não ser “importante”, passou a ter insônia, e quando pegava no sono era possuído por um pesadelo terrível, onde todas as pessoas eram “importantes” e o julgavam por ser um simples fazedor de parafusos.


O apetite se foi, assim como sua vontade em fazer qualquer atividade do lar, justo João que sempre fora um marido e pai exemplar, sua esposa Laura logo ficou preocupada e levou o cônjuge ao médico.


No consultório, João ficou fascinado ao ver as paredes do Dr. Hermann com todos aqueles diplomas, mais uma vez sentiu-se inferiorizado, quando o médico perguntou o que acontecia ele somente respondeu: “Nada Doutor, só não me sinto importante, pois a única coisa que faço são parafusos.”


O Dr. Hermann muito preocupado encaminhou João ao seu amigo e psiquiatra Olavo, esse segundo médico sugeriu uma medicação antidepressiva e sessões de terapia ao pobre paciente.


João seguiu à risca seu tratamento, tomava pontualmente suas medicações, além de comparecer religiosamente ao psicólogo para as consultas, porém o quadro não se alterava.


Certa noite João teve um sonho muito estranho, sonhou estar com sua avó, e ela lhe dizia para largar o emprego, pois seria um “fazedor” de parafusos infeliz por toda a vida.


Acordou desesperado e disse a esposa que seguiria o suposto conselho da avó, mesmo sabendo do orgulho de seu avô e pai quanto a sua profissão, João, no entanto, estava decidido, pediria demissão naquele mesmo dia.


Como acontecia a mais de vinte anos na fábrica, João foi o primeiro a chegar, assim que o gerente geral deu as caras no lugar lá foi o pobre e triste homem ao seu escritório e de forma direta disse querer sair do emprego.


O gerente sem entender nada ligou para o diretor da empresa explicando tal situação, Wagner conhecia a fama de bom trabalhador de João e pediu para que o gerente não formalizasse qualquer pedido de demissão sem antes ele conversar com o exemplar trabalhador.


Wagner saiu correndo de seu escritório, do outro lado da cidade, desmarcando inclusive um encontro com os fornecedores, não queria perder tal jóia rara de sua empresa.


Foi até a fábrica e numa sala de reuniões pediu para ficar a sós com João, e lhe perguntou: “Meu jovem, você é novo funcionário modelo, por favor me diga o que o fez pensar em pedir demissão? É o salário? É alguma condição de trabalho? Lhe falta algo? Por favor me diga, estou aqui para solucionar o que for preciso.”


João ficou espantado com tal visita, nunca havia visto Wagner e pessoalmente, sentiu-se até importante naquele instante, porém ainda estava disposto a não abandonar seu plano e disse: “Doutor, me desculpe, o salário não é o problema, eu gosto da empresa, porém não vejo sentido no meu trabalho, todos aqui são importantes, pilotos, engenheiros, o Sr. que é diretor, eu, no entanto, não sou ninguém, a única coisa que faço são parafusos.”


Wagner ficou em choque com tal declaração, por alguns instantes tentou buscar palavras para reverter a situação, porém não conseguia pensar em nada, até que pegou o interfone e disse o seguinte para a secretária: “Regina, por favor localize o Hermes e peça para vir até aqui com urgência, seja lá o que ele estiver fazendo”.


Virou-se novamente para João e disse: “Eu entendo seu lado, porém eu queria te pedir um único favor, uma pessoa virá até aqui, quero que você converse com ela, se mesmo assim você decidir pedir demissão eu aceito, mas por favor considere isso”.


João concordou.


Os dois foram até o refeitório da fábrica e lá por quase meia hora Wagner escutou bastante seu funcionário enquanto degustavam um bom café.


Pelo interfone a secretária anunciou a chegada de Hermes, logo Wagner pediu para que ele se dirigisse até a sala de reuniões.


Com todos acomodados Wagner tratou de apresentar o recém chegado ao funcionário exemplar: “João esse é Hermes, ele é nosso melhor piloto, trabalha aqui também há muito tempo, é um exemplo assim como você, inclusive hoje ele é nosso professor de pilotos novatos.”


Os olhos de João brilharam, porém logo ele disse: “Prazer Hermes, eu admiro muito pessoas como você, eu no entanto, sou muito pouco importante aqui, a única coisa que faço são parafusos”.


Wagner então dirigiu-se a Hermes e falou: “Por favor, diga para João qual foi o motivo da queda daquele avião de nossa concorrente e também aquilo que salvou sua vida naquele acidente dez anos atrás.”


Hermes virou-se para João e disse: “Meu caro, eu fui salvo pela qualidade dos parafusos que você fabrica, não fosse por eles eu não poderia ter controlado a aeronave naquele dia, nossa concorrente teve um acidente terrível por conta de parafusos malfeitos, simplesmente isso derrubou o avião”.


Pela primeira vez na vida, João sentiu-se a pessoa mais importante do mundo, sua alegria voltou, seu trabalho melhorou tanto que ele foi promovido à diretoria.


Não importa aquilo que você faça, seu trabalho é sempre importante, e faz toda a diferença!


Escrito por Luciano Arruda, Psicólogo e fundador do Fluidez Mental, seu contato é luciano@fluidezmental.com.br









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