Olá tudo bem?
Hoje temos o prazer de apresentar nossa primeira entrevista com um convidado internacional, ele é Raphael Sven Schneider é o fundador do site e canal do Youtube Gentleman's Gazette, também proprietário da marca de roupas e acessórios Fort Belvedere além de ser um dos maiores conhecedores mundiais de roupas masculinas clássicas.
Nossa entrevista foi realizada por meio de videoconferência e Raphael foi bastante simpático, arriscando inclusive algumas palavras em Português, pois apesar de ser alemão sua mãe é brasileira. Arrisquei um pouco de alemão mas a conversa foi majoritariamente em inglês.
Então vamos a entrevista, que espero que vocês curtam tanto quanto eu curti realizar.
Fluidez Mental: Nos fale um pouco de sua trajetória e como começou o Gentleman’s Gazette
Sven Raphael Schneider: É curioso mas tudo começa de forma diferente, eu não iniciei necessariamente com o negócio de vestimentas clássicas e sim com canetas. O princípio de tudo foi com o Ebay, me interessei por canetas tinteiro, pois achava interessante que algumas pessoas na Alemanha naquela época, usavam essa ferramenta para escrever.
Comprei um peça e revendi com um lucro. Após essa primeira compra adquiri alguns modelos Mont Blanc, que apesar do nome francês é uma marca alemã. Certa vez comprei um lote dessas canetas e junto ao pacote vieram algumas abotoaduras. Pesquisei um pouco sobre elas e então peguei gosto pela coisa comprando inclusive algumas camisas em que fosse possível usá-las.
Mais tarde buscando mais informações sobre roupas clássicas me deparei com o livro de Bernhard Roetzel “ O livro da moda clássica masculina”, foi onde comecei com a lições mais valiosas sobre moda e estilo clássicos.
Esse livro é bem completo me serviu como um guia para entender sobre ternos, camisas, sapatos e tudo mais.
A partir dessa leitura eu comecei a trabalhar em pequenos comércios e nas horas vagas ia para brechós garimpar essas peças clássicas.
Morar na Europa naquele tempo também era um facilitador, pois eu tinha fácil acesso a Itália por exemplo, onde era mais fácil encontrar essas roupas e acessórios.
Também naqueles anos pude conhecer outras pessoas na própria Alemanha interessadas nesse assunto, boa parte delas são inclusive meus amigos até hoje.
Naquele instante tudo isso era somente um hobby, eu então fui estudar Direito, uma vez formado parti para os Estados Unidos com intuito de realizar um mestrado na área.
Morando nos EUA eu comecei a perceber que seria complicado trabalhar com Direito, era a época da crise mundial de 2008/09 e poucas pessoas estavam contratando naqueles dias. Foi a partir dessa dificuldade que me veio a ideia de criar algo relacionado a moda clássica masculina, pois eu tinha tempo, um certo montante de recursos para começar e o mercado não estava muito favorável para advogados por conta da crise que vivíamos.
No início dos negócios nos Estados Unidos notei que algumas pessoas se interessavam por esse assunto, mas não tinham um acesso fácil a informações, ou as lojas onde fosse possível comprar tais peças.
Abrir uma loja física seria de certa forma inviável, pois a cidade de Minneapolis onde vivo não é necessariamente famosa por roupas clássicas, então com a ajuda de minha esposa que já trabalhava em áreas comerciais veio a ideia da loja virtual Fort Belvedere.
(Nota: Neste momento ele pergunta sobre o que eu achava da moda clássica masculina. Repondo que o ato de se vestir bem é importante para o bem-estar, abre portas e faz com que você seja mais respeitado pelas pessoas a sua volta.
Foi quando ele se lembrou de um episódio curioso de quando esteve em São Paulo, era criança e não foi permitido que ele entrasse de bermuda em um restaurante local.)
F M: Qual sua maior influência?
S R S: Bem é lógico que estaria mentindo se dissesse que ninguém me influenciou (risos), mas realmente não existe uma pessoa em especial que o tenha feito. Para os negócios eu diria que realmente não tive ninguém em mente na criação, a ideia surgiu de uma demanda reprimida por roupas desse estilo, no entanto. eu diria que uma influência que posso citar é de Fred Astaire por todo seu estilo.
Outra grande influência seria o Baron von Eelking, que foi o criador do Herrenjournal, uma revista criada na Alemanha em meados dos anos 20, que tratava principalmente de assuntos ligados às vestimentas e comportamento masculino. Algo interessante é que recentemente tive o prazer de me encontrar com sua filha, que vive em Colônia (Alemanha) onde pude tomar uma taça de champagne com ela e conversar sobre diversos assuntos.
F M: Você teria alguma sugestão para quem pretende trabalhar no ramo das roupas clássicas?
S R S: Eu imagino que a primeira coisa a ser pensada é até onde você quer chegar com o negócio, o que você almeja alcançar. É muito fácil olhar para os outros e ver o que atingiram e tentar copiar essas ideias de forma integral sem entender quem você realmente é, você precisa entender realmente quem será o seu público.
Seria muito fácil dizer sobre o que fazer ou não fazer, mas isso é uma decisão muito pessoal. Em nosso canal do Youtube por exemplo nós evitamos ser dramáticos, fazer coisas como por exemplo reagir a outros vídeos, que muitos canais fazem, isso acaba sendo muito popular, mas não é realmente o nosso foco, aquilo que nós somos. Nós temos um perfil distinto para o canal, dificilmente iremos falar de tênis ou modas casuais.
O ideal é que você pense calmamente naquilo que realmente deseja fazer antes de iniciar suas atividades nesse ramo.
Outra dica seria entender sobre as mídias que você utilizará, nós começamos em uma época onde os blogs eram muito comuns e populares, migramos para o site e só após conhecer bastante sobre a nova plataforma iniciamos o canal do Youtube. Hoje muitas pessoas começam pelo Instagram por exemplo, mas é uma plataforma de difícil crescimento, é uma uma ferramenta onde a imagem é o foco havendo pouco espaço para uma explicação mais aprofundada do conteúdo.
Você precisa também saber que algumas plataformas são “difíceis”, no Youtube por exemplo é necessário que você saiba que produzir um vídeo com qualidade é caro, é necessário haver conhecimento técnico e tempo. Você precisa saber quanto tempo irá dispor para esse serviço, será algo integral? Um passatempo? É lógico que não começamos sabendo tudo, mas buscamos sempre aprimorar os conhecimentos no decorrer do tempo.
Outra dica seria pensar sobre uma plataforma foco, muitas pessoas tentam fazer tudo ao mesmo tempo, ter um site, um podcast, um canal no Youtube, Instagram… as vezes é muito melhor ter somente uma plataforma bem feita, do que atirar para todos os lados e fazer tudo de qualquer maneira.
Resumindo, eu diria: Seja você mesmo, foque naquilo que realmente acredita e não tente atirar para todos os lados ao mesmo tempo.
FM: O que mais te orgulha na profissão?
S R S: (pensativo) Somos bastante orgulhosos daquilo que construímos e sempre temos grande expectativa em relação ao futuro também. Nós criamos uma comunidade mundial de interessados em roupas clássicas masculinas e isso é sem dúvida muito interessante.
F M: Você tem algum hobby? Nos fale sobre
S R S: Sim sem dúvida, eu sempre fui muito interessado por antiguidades por exemplo, casas antigas, aquelas decorações clássicas, móveis, papéis de parede e tudo mais relacionado ao universo, gosto também de saber como tudo isso é construído.
Outro hobby que eu tenho é a comida, gosto muito desse universo, seja o preparo a degustação o estudo sobre o tema. Inclusive eu gosto bastante de viajar com essa temática em mente, desde pequeno eu sempre viajei com meus pais, inclusive para o Brasil, onde pude desfrutar de ótimos pratos, hoje continuo gostando muito de fazer isso.
Hoje eu tenho uma filha também com 3 anos de idade, e sair com ela para explorar o mundo ao redor, os animais as comidas, acaba também sendo um passatempo para mim.
F M: Diferente de outros produtores de conteúdo você decidiu se manter independente não aceitando conteúdo patrocinado, nos fale um pouco sobre isso é algo que vale a pena?
S R S: Muito boa essa pergunta, sim financeiramente falando, os vídeos patrocinados acabam sendo uma boa saída para o produtores de conteúdo. Mas existem alguns problemas em relação a isso, quando você divulga um produto de um terceiro e essa empresa piora a qualidade de um produto, acaba sendo uma tiro no seu pé, tendo sua própria marca e divulgando seus produtos, você tem controle total sobre isso, esse é um aspecto.
Outra questão é que gosto de falar nos meus vídeos daquilo que realmente sou apaixonado, não faz sentido fazer uma propaganda de algo que eu não utilizo no dia a dia, por exemplo.
Tendo uma canal popular você realmente pode fazer bastante dinheiro com o conteúdo patrocinado, mas existem alguns riscos pois de certa forma você acaba se “prostituindo” para as marcas, pode perder sua independência e credibilidade, lógico não estou julgando aqui outros produtores de conteúdo, cada um sabe o que realmente faz, no entanto, realmente não funciona para mim, as vezes é preferível falar gratuitamente de uma marca que você consome e gosta e manter sua independência.
Uma questão importante a ser dita é que hoje o que é pago por visualização pelo Youtube dificilmente cobre os custos de uma canal profissional, então é bem compreensível que muitas pessoas optem por trabalhar com conteúdo patrocinado, alguns produtores realmente dependem disso, nesse caso temos sorte de poder trabalhar com nossos produtos. Muitos canais trabalham com “conteúdo vip”, programas como o patreon, porém também é um mercado ainda muito novo, e um número muito pequeno de usuários está disposto a pagar por um conteúdo extra.
F M: Como você cuida de sua saúde mental? Já fez terapia?
S R S: Isso é muito importante, eu sou uma pessoa bem realista, não tenho grandes variações de humor por exemplo, tento ser assim a maior parte do tempo. Anos atrás sim, eu participei de algumas sessões de terapia em pequenos grupos, através de uma organização, era algo focado em assuntos específicos como negócios, família e os cuidados com você mesmo, isso realmente me ajudou bastante a lidar com algumas dificuldades na época e ainda hoje.
Pouco depois junto com minha esposa conhecemos uma terapeuta que trabalha especificamente com pensamentos limitantes e crenças pessoais que nos impedem de atingir nossos objetivos e fizemos o processo juntos.
Eu gosto muito de aprender sobre mim mesmo, perceber como interajo com outras pessoas, felizmente desde muito cedo minha família sempre teve a mente muito aberta em relação a essas coisas, então hoje não tenho nenhum receio em dizer como a terapia é importante no seu crescimento pessoal. Eu também acredito muito que não estamos no mundo somente por nós mesmo, mas as interações nos fazem aprender muito e crescer como pessoas.
F M: Você acha que seus serviços ajudam as pessoas com esse tema da saúde mental?
S R S: (pensativo) Eu imagino que definitivamente pode ajudar sim, quero dizer, quando você se veste melhor acaba tendo mais respeito por parte da sociedade, é muito bom quando escuto de alguém que meus ensinamentos o ajudaram a conseguir um emprego por exemplo.
Nosso canal é assistido por diversos tipos de público, desde aqueles que conhecem bastante sobre a temática até os iniciantes. E quando alguém nos fala o quanto tem aprendido e gostado do tema é que percebemos que somos vitoriosos, gosto de saber que iniciamos uma jornada de conhecimento para essas pessoas.
É evidente que a maioria dos espectadores do canal possivelmente jamais irão usar um chapéu clássico no seu dia a dia, mas saber que aprenderam sobre algo me deixa muito contente, creio que nesse ponto nosso trabalho de certa forma ajuda as pessoas nesso ponto de saúde mental.
É interessante também notar como a forma de vestir muita seu jeito de andar por exemplo, sua confiança. Imagine vestir um terno branco por exemplo, as pessoas se terão interesse em saber quem você é o que você faz.
Muitas vezes eu visito algumas lojas e as pessoas me conhecem pelas gravatas borboletas por exemplo, e quando saio da academia e volto nesses mesmos locais muitos perguntam o que aconteceu (risos gerais).
F M: Diga algo curioso sobre você, não vá dizer que sai por aí de chinelos?
S R S: (Risos) Não, não. Mas algo curioso que muitas pessoas não percebem é o meu sarcasmo. Tem outra coisa muitas pessoas não notam, embora eu tenha feito um vídeo a respeito do assunto, quando não uso gel meu cabelo está sempre muito “armado”.
(Faz a pergunta para a esposa, que responde) Sim, tem algo bem curioso, no geral as pessoas sempre imaginam os alemães extremamente organizados e metódicos, mas esse não é muito meu caso, não passo horas e horas por exemplo organizando minhas gravatas e coisas assim, sou meio “bagunçado” nesse sentido, mas sempre sei onde tudo está pelo menos (risos)
F M: Quais são seus projetos futuros?
S R S: Um dos projetos seria sair do mundo virtual e conectar nossa comunidade de forma presencial, um plano para os próximos cinco anos seria criar um cruzeiro ou alugar um espaço onde poderíamos criar um evento para que as pessoas possam naturalmente vestir essas roupas.
Gostaríamos de criar essa experiência, pois pense bem, você aí no Brasil, quantas vezes tem a real oportunidade de vestir um traje “white tie” e encontrar seus amigos? Conversar sobre o tema?
A ideia seria reunir todo mundo em um clube de campo por exemplo, onde seria possível não somente vestir essas roupas, mas viver toda uma experiência, encontrar os amigos, e até por que não, expandir nosso conhecimento sobre esse universo. Quem sabe por exemplo convidar também estilistas e alfaiates para participarem e falarem sobre suas experiências, enfim esse é o plano.
Ao Final Sven se diz curioso sobre o que eu teria a dizer sobre o governo Bolsonaro… Eu respondo educadamente minha opinião, mas não é o tópico por aqui, então essa informação permanece em segredo :D.
Para conferir todo o trabalho de Sven Raphael Schneider acesse esses links:
Gentleman’s Gazette: https://www.gentlemansgazette.com/
Fort Belvedere: https://fortbelvedere.com/
Entrevista conduzida por Luciano Arruda, Psicólogo e fundador do Fluidez Mental, seu contato é: luciano@fluidezmental.com.br
Comments